Férias de Mim
Junto com as férias do trabalho.
Domingo estou partindo para longe da minha vida.
E devo confessar, estou em fuga mesmo.
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Estou passando por um momento de angústia e questionamentos.
Não quero conversar com ninguém, quero ficar comigo apenas.
Não, não é uma crise depressiva.
Não quero morrer, quero apenas deixar de viver meu eu.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Lisboa, Porto e Viana do Castelo não estavam no trajeto original.
Mas eu fui intimado pela minha amiga Márcia a hospedar-me em propriedade de sua família em Viana. Coisa muito fina.
A viagem de um mês tem ainda Madrid, Barcelona, Florença, Milão e Roma.
Uma correria, mas são todos lugares que não conheço com exceção de Roma.
Julinho segue a sós comigo até Barcelona. E lá encontramos dois amigos que nos acompanham pela Itália. Além do Bernardo, que vem conosco para o Brasil.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
Esta viagem não tem talvez o sabor de aventura de outras. Nem a lentidão de algumas. É uma viagem que apesar de demorada passará por muitos lugares. Mas é uma viagem mochileira, com hospedagem em Lisboa, Viana, Barcelona e Roma em casa de amigos. Nada de luxos e excentricidades. Classe turística e bilhetes de trem. Mas é um momento de reflexão para mim e para o Julinho também. E não há nada melhor so que viajar com seu melhor amigo.
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Na bagagem, pouca disposição para noite e muita para o dia. Dias longos e reflexivos. Tenho certeza que essa imersão na Europa latina é uma busca pelas minhas raízes culturais. Pela minha língua mãe portuguesa, pelo meu sangue italiano que contrasta com meu corpo germânico. Pelos ritmos flamencos que vivem em mim. Quem sou eu? O que sou eu? Quem serei eu daqui a 30 dias quando estiver de volta ao Brasil.
Em julho eu volto. Com saudades.
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
* Os versos em itálico e em cor azul são do poema Tabacaria, Álvaro de Campos, 15-1-1928. Foram escolhidos para entremear meu post pois refletem bem meu estado de espírito.
** Não escreverei aqui por algum tempo, mas se passar por algum cyber, eu respondo emails em ricomantler@gmail.com e prometo visitar os blogs de sempre.
*** Até a volta! Possivelmente com novo template.