quinta-feira, maio 31

Férias de Mim

Vou tirar férias de mim mesmo.
Junto com as férias do trabalho.
Domingo estou partindo para longe da minha vida.
E devo confessar, estou em fuga mesmo.

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Estou passando por um momento de angústia e questionamentos.
Não quero conversar com ninguém, quero ficar comigo apenas.
Não, não é uma crise depressiva.
Não quero morrer, quero apenas deixar de viver meu eu.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas


Lisboa, Porto e Viana do Castelo não estavam no trajeto original.
Mas eu fui intimado pela minha amiga Márcia a hospedar-me em propriedade de sua família em Viana. Coisa muito fina.
A viagem de um mês tem ainda Madrid, Barcelona, Florença, Milão e Roma.
Uma correria, mas são todos lugares que não conheço com exceção de Roma.
Julinho segue a sós comigo até Barcelona. E lá encontramos dois amigos que nos acompanham pela Itália. Além do Bernardo, que vem conosco para o Brasil.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!


Esta viagem não tem talvez o sabor de aventura de outras. Nem a lentidão de algumas. É uma viagem que apesar de demorada passará por muitos lugares. Mas é uma viagem mochileira, com hospedagem em Lisboa, Viana, Barcelona e Roma em casa de amigos. Nada de luxos e excentricidades. Classe turística e bilhetes de trem. Mas é um momento de reflexão para mim e para o Julinho também. E não há nada melhor so que viajar com seu melhor amigo.

Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.


Na bagagem, pouca disposição para noite e muita para o dia. Dias longos e reflexivos. Tenho certeza que essa imersão na Europa latina é uma busca pelas minhas raízes culturais. Pela minha língua mãe portuguesa, pelo meu sangue italiano que contrasta com meu corpo germânico. Pelos ritmos flamencos que vivem em mim. Quem sou eu? O que sou eu? Quem serei eu daqui a 30 dias quando estiver de volta ao Brasil.

Em julho eu volto. Com saudades.

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.


* Os versos em itálico e em cor azul são do poema Tabacaria, Álvaro de Campos, 15-1-1928. Foram escolhidos para entremear meu post pois refletem bem meu estado de espírito.

** Não escreverei aqui por algum tempo, mas se passar por algum cyber, eu respondo emails em ricomantler@gmail.com e prometo visitar os blogs de sempre.

*** Até a volta! Possivelmente com novo template.

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quarta-feira, maio 30

Divagações

Ontem a conta do Jobi chegou a R$98. Só chope. Eu e Júlio. O Julinho.
Sobre o que falamos?
Em dias como o de hoje, acreditar em quê, porquê e para quê?
Ricardo Mantler é um heterônimo criado por quem mesmo?
Como fazer para fugir da minha própria loucura?
Talvez incluindo Viana do Castelo no roteiro das minhas férias.
Parece papo de doido, e é.
Reflexões, divagações, constatações e até ameaças são feitas na mesa de um bar.
Indignação.
Em plena segunda-feira, porque o plenário do senado estava repleto de senadores. Para ouvir o último babado forte da lama de corrupção que é este país?
O presidente do senado admite não declarar uma fonte de renda na sua declaração anual à receita. E no final, ao invés de sair preso por crime tributário, ele é aplaudido e defendido como uma pessoa injustiçada, que teve sua vida íntima devassada.
E eu, preciso acreditar na democracia, senão enlouqueço?
Preciso acreditar em Deus, para não precisar mais perguntar de onde vim e para onde vou? Ou mesmo para jogar a culpa de todas as minhas angústias e misérias pessoais?
Preciso acreditar no Papai Noel?
Preciso?
Eu acredito na Brahma. No chope da Brahma.
Eu acredito na AIDS, no vírus da AIDS. Aleluia!
Eu acredito na falta do que dizer e fazer.
Não acredito que eu seja louco, mas que louco acreditaria nisto?
Não acredito na virgindade da mãe de Cristo.
Eu não acredito que vá morrer por causa do meu fígado fodido.
Eu não quero uma casa no campo porra nenhuma. Eu quero é um loft no SoHo perto de bares e da vida noturna agitada de uma grande metrópole.
Eu acredito que o Salvador da humanidade chama-se Charles Darwin e que daqui há mil anos alguém dirá: Só Charles Darwin salva!
Ninguém se lembrará de mim, depois que eu e meus amigos morrermos.
Eu quero que a Amazônia se foda. Já estamos na merda mesmo.

Pronto, estou mais aliviado!

Procurando um dono

Há pouco liguei para a Itaucard para desbloquear meu novo cartão de crédito.

Feita sua obrigação, a atendente terminou com a seguinte oferta:

- Sr. João, gostaria de estar cadastrando o seu cartão na promoção "Tem um milhão procurando um dono"?
- Como funciona esta promoção?
- A cada R$50,00 em compras efetuadas após o cadastro do cartão, o senhor acumula um cupom para concorrer, ao término da promoção, a um prêmio de um milhão de reais.
- E quanto eu pago por isto.
- Nada senhor. Basta querer estar se cadastrando na promoção.
- Então pode me cadastrar.
- Pois não. Basta o Senhor me responder a seguinte pergunta: "Qual o cartão de crédito oferece a promoção "Tem um milhão procurando um dono", Itaucard ou outro?
- Bom, o que acontece se eu responder "Outro"?
- Neste caso senhor, a resposta estaria incorreta e o senhor não poderia estar participando da promoção.
- Então tente você mesma adivinhar qual será minha resposta... Te dou uma dica: Minha resposta não é "Outro".
- Senhor, esta não é minha função. Eu preciso da sua resposta para estar fazendo o seu cadastro.
- Mas se você me disse que a opção "Outros" é errada, porque eu responderia "Outros"?
- Senhor eu só preciso que o senhor diga que a resposta correta é Itaucard, correto?
- Correto.
- Então qual a resposta correta senhor?
- É esta que você falou.
- E qual era mesmo, senhor?
- Quem é o ignorante, eu, você, ou o Itaucard?
- O senhor disse Itaucard? Está correta a resposta senhor.
- Nossa, como eu sou esperto e inteligente.
- A Itaucard agradece a sua ligação, tenha um bom dia!

terça-feira, maio 29

Subúrbio

Muita gente acha erroneamente que eu sou um fã do subúrbio. Põe erroneamente nisto. O subúrbio romantizado nas letras de sambas não existe.

Alvorada lá no morro, que beleza? Beleza é pôr do sol no Arpoador.

Eu gosto do samba, da cachaça e da bagunça. E sou da Lapa, sim, mas a Lapa é no Centro.

Sim, é verdade que eu vou com certa freqüência a quadra da Portela. Mas como disse, meu compromisso é com o samba e não com o subúrbio.

Quem por livre e expontânea vontade trocaria Ipanema por Marechal Hermes?

Sábado eu fiz minha boa ação do século. De uma tacada só eu fui a duas festas no subúrbio.

Primeiro, aniversário de 15 anos da filha da minha empregada, em São Gonçalo.

Eu com a Bárbara a tiracolo que foi comigo para que eu pudesse suportar o acontecimento.

Festa no subúrbio é assim: Cadeiras e mesas de plástico, salgadinhos fritos quase junto aos convidados que ficam fedendo a gordura, crianças mal educadas correndo para todos os lados, funk e axé rolando solto em caixas de som estouradas, rapazes de bigodinho e meninas com o cabelo pingando de henê.

Aniversariante entra de branco num salão mal iluminado ao som de Kenny G enquanto um tio gordo filma tudo.

Um vídeo com fotos da aniversariante e depoimentos de amigos e familiares faz com que a maquiagem da debutante, comprada na loja de R$1,99, derreta em questão de segundos.

Lá pelas tantas um carro de som traz uma mensagem muito brega com frase do tipo: "Hoje, a flor desabrochou". Fundo musical: "A Whole New Wolrd".

Mulheres cheias de docinhos nas mãos no fim da festa.

Pessoas desesperadas por um pedaço de bolo.

Tudo isso eu e a Bárbara assistimos em primeiríssima mão. Assustadíssimos, saímos de fininho logo após cantarem parabéns para a menina.

Mas ainda tínhamos mais uma missão: Aniversário da nossa cabeleireira Marcielly em Realengo.

Uma hora da manhã.

Churrasco e cerveja à vontade.

Pagode mela cueca e forró.

Bárbara não sabe dançar junto. Então eu puxei a irmã da aniversariante. Xote, xaxado, baião.

Muita mini-saia e cheiro de buceta suja.

Presença VIP dos traficantes da região.

- Pode ficar tranqüilo que aqui ninguém mexe em carro de ninguém.

Quando descobriram que a Bárbara não era nada mais do que minha amiga, tentaram me empurrar uma tal de Meriellen, irmã de um dos donos da boca. Nesta hora eu olhei pro céus e pensei que se Deus existisse, que me livrasse deste sufoco.

Tive que implorar a Bárbara pelo nosso plano B, onde ela faz uma cena de ciúme ridícula, nós brigamos e acabamos saindo mais cedo da festa.

O que a gente não faz por amizade...

De volta ao Leblon, risos e vinho pra terminar a noite.

E nosso passaporte pro céu carimbado pelo Homem.

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segunda-feira, maio 28

Folhetim

Eu sou destes caras que dizem sim.
Por uma coisa à toa, uma noitada boa, um bom vinho, uma jantar num lugar legal.
Prendas? Flores são bem vindas. Charutos também.
Eu tenho um vizinho que descobriu isso há alguns meses.
E resolveu que eu sou sua prostituta de luxo.
Uma puta burra, que adora um mimo, beija na boca e goza muito.
A gente sempre se cruza pelo elevador ou na garagem do prédio.
Tem 39 anos. Solteiro há dois. Uma filha de seis anos. Mais alto do que eu, barba cerrada, corpo atlético, com pêlos fartos.
Azzaro Siver Black.
Advogado Criminal.
Traje completo, sempre.
Lábios carnudos, coxas inacreditavelmente grossas.
Convites para viagens, flores eventualmente, vinhos, charutos, coletâneas de jazz.
Um homem charmoso, discreto e de bom gosto.
E eu insisto em manter isto na clandestinidade. Meu lado puta quer isto. Quer a cama dele, os presentes dele, mas não quer dar nada em troca. Só meu corpo, meu suor, meu sexo.
Porque? Não sei.
Sexta-feira eu estava irreconhecível. Cipriani. Jantar romântico num dos restaurantes mais caros da cidade. No melhor estilo blazer Armani e sapatos Ermenegildo Zegna. Depois de um jantar maravilhoso com vinhos idem e do papo mais inteligente dos últimos anos, muito sexo selvagem cheio de palavras chulas e fluidos hormonias.
Mas na manhã seguinte, ele já sabe que nem adianta contar até vinte. E ele gosta.
Se é tão bom assim, porque eu sempre fujo e finjo que não o conheço até o próximo convite?
Porque esse jogo é tão irresistível e tão necessário?
Seja qual for a resposta, prefiro que continue assim.
Gostoso assim.

sexta-feira, maio 25

O inferno são quem?

Minha mãe era católica apostólica romana. Aí casou-se com meu pai, Luterano. Desde então passou a segui-lo em sua doutrina cristã ultra moralista. Um tédio.

Eu cresci ouvindo que os boêmios da Lapa, o povo do bar sabe, vai pro inferno.

Esse pessoal que faz sexo fora do casamento, também tem seu ticket garantido.

Gays, não tem nem opção.

Quarta-feira a tarde uma turma de beatas que fazem rezas para os enfermos passou pela casa da minha mãe, onde eu convalescia de dengue.

Eu perguntei se estas regras ainda valiam.

A resposta foi positiva.

Eu: Sendo assim, todos os meus amigos vão pro inferno?
Beata: Se eles deixarem Deus morar nos seus corações, não.
Eu: Isso implica em parar de beber, de fumar e de trepar com quem quiser?
Mamãe: João Ricardo! Que grosseria!
Eu: Só estou perguntando mamãe...

--Pausa

Eu: Pera aí: Elis, Cazuza, Billie Holiday, Charles Darwin, Voltaire, Kafka, Sartre, Oscar Wilde... Todo mundo foi pro inferno? Me diz... quem de interessante foi pro céu?
Beata: Maria, José, Abrahão, Moisés.
Eu: Ok, me deixe ir pro inferno!
Mamãe: João Ricardo!
Eu: Ah mamãe, não quero passar a eternidade dando uma de penetra na festa dos outros, enquanto tem coisa muito mais divertida pra fazer.

--Fim de papo

Gastronomia

Não conheço pessoalmente a Luciana Fróes.

Mas pelo que leio em sua coluna semanal imagino como deve ser gorda!

Gorda e feliz!

Amor, amor...

Quinta-feira à noite, aquele friozinho... e eu pensando comigo: Quem são meus verdadeiros grandes amores? Quem me acompanhará com o coração sempre aberto pelo resto da vida? Papai e mamãe? Dois velhinhos mais pra lá que pra cá. O Bernardo e seus altos e baixos? Também não.

Existem duas criaturas que são meus verdadeiros grandes amores: Bárbara e Júlio. E o amor dos amigos é algo extremamente sincero. Parece não exigir nada em troca. Nem mesmo o sexo, que o diferencia dos amantes. No caso destes dois então, é próximo e intenso. É como se eu fosse o vértice de um triângulo amoroso impossível. Julinho, hétero convicto. E a Bárbara, ainda que fosse, é mulher.

Ontem combinamos um jantarzinho a três aqui em casa. O clima de sempre. Depois de umas taças de vinho a gente ri, se abraça e troca selinhos e juras de amor eterno. Daí falamos sobre política, xingamos Deus, apresentamos uns aos outros nossas novas descobertas musicais, discutimos cinema e gastronomia. Depois tem as balas de côco que a Bárbara mesmo faz. E ultimamente tem tido muito fado em substituição ao bom jazz de sempre.

Não sei porque, mas acho que nenhum de nós vai casar. A sensação de que a vida é boa assim mesmo é comum ao ambos.

Não quero mais amar a ninguém.

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quinta-feira, maio 24

Tôcumdengue

Entenderam?

segunda-feira, maio 21

MSN Parte 4

Eu não sou Deus. Se sou, ainda não descobri que sou. Mas como Jesus só descobriu aos 30, ainda estou em tempo. Mas isto não vem ao caso. O que importa é que sendo ou não um Deus, eu sou uma pessoa bondosa, justa e misericordiosa. Tanto que resolvi agora que ao menos uma vez por mês eu libertarei um dos meus contatos bloqueados no MSN. E o escolhido para inaugurar o meu indulto mensal foi uma velho conhecido dos leitores deste blog: MalhadoBarra30a. Todos merecem uma segunda chance até que se prove o contrário. Foi só soltar o prisioneiro e ele veio me cutucar:

MalhadoBarra30a: Olá, de onde tc?
Mantler: Porra, de novo?

---pausa

MalhadoBarra30a: Já tc antes?
Mantler: Olha o seu histórico.
MalhadoBarra30a: Não guardo.

---pausa

MalhadoBarra30a: O que vc curte?
Mantler: Paz!
MalhadoBarra30a: Hehehe... o que mais?
Mantler: Homens não malhados, que não morem na Barra e com mais de 35 anos.
MalhadoBarra30a: Só pra me provocar né?
Mantler: Não, na verdade é pra você desistir mesmo.
MalhadoBarra30a: E se eu não quiser?
MalhadoBarra30a: E se eu quiser insistir?
Mantler: Pode tentar começando por mudar o rumo da prosa.
MalhadoBarra30a: Você é do tipo romântico à moda antiga?
Mantler: Não. Sou do tipo que toma antidepressivo e tem a libido muito baixa.
MalhadoBarra30a: Ótimo. Eu sou psiquiatra.
Mantler: Puxa! Eu não.
MalhadoBarra30a: Ah, deixa de ser difícil. Sábado a noite e estou sozinho querendo um bom papo. Só isso.
Mantler: Ok, e sobre o que vamos falar?
MalhadoBarra30a: Sobre você, pode ser?
Mantler: É uma consulta grátis?
MalhadoBarra30a: Hahahaaha, pode ser.


Corta!

A vida é um filme e nós somos os diretores. Pensando nisto eu parei, analisei o caso e meditei: Bom, malhado, 30 anos, mora um pouco longe, mas... bom é médico. Só aparecem médicos no meu caminho. Bom é um cara que estudou muito, deve ter algum conteúdo. Será que ele gosta de jazz, de vôlei, natação? Ou será que é uma barbie que ouve música eletrônica? Ok, ele tem 10 minutos pra me convencer a mudar o roteiro deste filme.

Ação!

Mantler: Bom, estou mesmo precisando de alguém que me escute. Ou que me faça querer ouvi-lo.
MalhadoBarra30a: E sobre o que vamos falar? Música, teatro, ciência?
Mantler: Quero falar sobre como seria bom uma boa companhia num sábado chuvoso ao som de blues e jazz e uma boa comidinha sem preocupação com calorias.

(Uma hora e meia depois)

MalhadoBarra30a: Na minha casa ou na sua?
Mantler: Que tal num bar?
MalhadoBarra30a: Fechado!
Mantler: 9235-****.
MalhadoBarra30a: Ok, Pizzaria Guanabara, em 40 minutos. Quando estiver chegando eu te ligo.
Mantler: Combinado.

(Três horas depois, no meu chuveiro)

- Não sei o que foi melhor esta noite... (Rodrigo)
- Trepar ao som de Yma Súmac, ou saber que coleciono "Comandos em Ação"?
- Não. Acho que foi descobrir que aquele papo de libido baixa era puro caô seu.
- Foi para fazermos as pazes. Você deu sorte.
- Talvez a sorte grande...
- Talvez.

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sexta-feira, maio 18

Na Era Digital, o Amor Continua Ridículo

Todas os emails de amor são
Ridículos.
Não seriam emails de amor se não fossem
Ridículos.
Também escrevi em meu tempo emails de amor,
Como os outros,
Ridículos.

As SMS de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
SMS de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Scraps de amor
Ridículos.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Desses Posts de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

*Todas as Cartas de Amor são Ridículas, Álvaro de Campos, com Adaptações de Ricardo Mantler

**SMS = Mensagens de texto para telefones celulares

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quinta-feira, maio 17

Chico!

Ontem a noite eu dizia ao Ricardo que há um bom tempo não via o Chico(Buarque) andando pelas ruas do bairro.

Por volta da meia-noite o Julinho bateu lá em casa trazendo duas garrafas de "Chateauneuf Du Pape", 1999, que ganhara de um cliente(Wow).

Começamos a beber e a tragar uns Vegueros que eu sempre tenho guardado para ocasiões como esta. Depois de muitas taças, estávamos dançando e rindo da vida.

Já estávamos de cuecas de dormir quando de repente o Julinho começa a gritar da janela:

- Bicho, é o Chico!
- Aonde seu doido?
- Ali, vindo da Ataulfo.

Corri para janela também. Quase uma da manhã, sozinho, descendo a Rita Ludolf. Seria mesmo ele? Parecia.

- Chico!!!

Não olhou. Começou a baixaria:

- Gostoso, olha nos meus olhos!
- Quem te viu. Quem te vê!
- Nó somos Gente Humilde, mas somos limpinhos!
- Quer um vinho francês, ganhei numa "Construção"!

O cavalheiro seguia impávido e alheio aos gritos dos dois bêbados na janela.

- Vamo tacá pedra na Geni?!
- Quer açúcar? Ou Afeto?

Risos, gargalhadas... E nada do suposto Chico olhar.

Fui a cozinha pegar um outro vinho qualquer. Ao retornar, o Julinho tinha sumido. Gritos ecoaram da rua:

- Chico cadê você?

Visualizem: Em plena madruga, eu buscando o Julinho na rua, ao som das risadas e gritos dos porteiros. Ambos de cueca samba-canção.

E ainda teve muito vinho, charutos e o DVD "Carmen McRae Live" até a gente apagar sobre o chão almofadado da sala de TV.

Ah, eu amo meus amigos e o Julinho é TOP. Ele sempre diz que se eu fosse mulher, teríamos nascido um pro outro. Eu sempre respondo:

- Mulher? Para quê?. É tão mais prático você se descobrir gay...

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Porque escrever um blog?

No meu caso, a terapia estava muito cara e dando poucos resultados. É impressionante como eu preciso falar de mim mesmo, expôr minha vida particular e ser ouvido. E aqui ainda tem uma vantagem: As pessoas te ouvem(ou lêem) sem cobrar por isto. É mais sincero e mais barato. Funciona que é uma maravilha. É ótimo saber que sua vidinha aparentemente sem graça pode ser interessante para outras pessoas.

E você? Porque bloga?


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quarta-feira, maio 16

Senhor da Floresta


Em entrevista que consta dos extras do DVD "Brasileirinho", Maria Bethânia disse que certa vez, durante a escolha do repertório do álbum de mesmo nome, pediu a Chico César que ele fizesse letra e música para uma belíssima lenda indígena que ela ouvira quando menina e que a deixara encantada.

Após ouvir a estória da boca de Bethânia, Chico César afirmou que já existia uma canção muito antiga falando sobre tal lenda. Uma canção belíssima e que deveria fazer parte do repertório do CD. E que não faria uma música nova, porque tal canção era insubstituível.

Ele não lembrava nem a letra, nem a melodia. A única pista é que ele ouvira tal canção durante uma seresta no sertão baiano. Depois de mais de um mês de muita pesquisa, sem sucesso, resolveram desistir e a canção quase ficou de fora de "Brasileirinho".

Foi então que Bethânia, em visita a Santo Amaro da Purificação, sua terra natal, comentou o assunto com sua mãe, Dona Canô. E não é que ela sabia a letra e a música? Composição datada de 1945 de René Bittencourt(1917-1979), carioca de Paquetá e que foi sucesso no mesmo ano na voz de Augusto Calheiros(1891-1956), cantor alagoano apelidado de "A patativa do Norte", pela sua voz afinadíssima e estilo peculiar de cantar, que o tornariam um dos cantores mais originais do seu tempo.

É a tal coisa. Muitas vezes procuramos sempre as coisas da maneira mais difícil e acabamos por complicar as coisas. Esquecemos que muitas vezes é tão mais fácil gritar: Manhê!

Salve a lucidez de Dona Canô! Senhor da Floresta é realmente belíssima e na interpretação de Bethânia, é soberba. Um presente para o meu e para o seu ouvido.

Ouça bem aqui!


Senhor da Floresta
Maria Bethânia
Composição: René Bittencourt

Senhor da floresta,
Um índio guerreiro da raça tupi
Vivia pescando, sentado na margem do rio chuí.
Seus olhos rasgados, no entanto,
Fitavam ao longe uma taba
Na qual habitava a filha formosa de um morubixaba.

Um dia encontraram Senhor da floresta no rio chuí
Crivado de flechas, de longe atiradas por outro tupi
E a filha formosa do morubixaba
Quando anoiteceu, correu,
Subindo a montanha, no fundo do abismo desapareceu.

Naquele momento, alguém viu no espaço, à luz do luar
Senhor da floresta de braços abertos, risonho a falar:

- Ó virgem guerreira, ó virgem mais pura que a luz da manhã,
iremos agora unir nossas almas aos pés de tupã.

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terça-feira, maio 15

Dias Nublados

Eu sou carioca.

E gosto de dias nublados.

Sorry, Calcanhotto.

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Curtas

Estranheza

Meu novo colega de trabalho é esquisito.
Ontem durante o almoço, ele juntou as mãos em conchinha e rezou uma prece antes de comer.
Isto não vai dar certo.

Mudanças

A vida me surpreende sempre.
Quando paro de reclamar da monotonia e aprendo a curtir o tédio que é viver, vem o destino e muda tudo.
E me prova que a vida pode ser muito mais divertida.
Se tudo der certo, em pouco tempo serei um ex-funcionário público.

A Moura Torta

Lembrando-me do post sobre a Suzana, lembrei também de uma história que ela gostava de contar, a história da Moura Torta.
Fiquei meditando o quanto de preconceito uma simples historinha infantil pode conter.
Pode parecer inocente, bobinha. Mas porque a mulher feia que lembrava uma bruxa tinha que ser uma moura?

Patafísico

Você tem toda a razão. "Rufus Wainwright - Release the Stars" é magnífico.

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segunda-feira, maio 14

Mãe Preta

Primavera de 1900. Numa fazenda próxima a um pacato vilarejo, nasciam duas meninas que teriam destinos muito diferentes e ao mesmo tempo muito próximos. A primeira delas viria a tornar-se a Dona Catarina, minha avó materna. A outra era a Suzana, filha de uma ex-escrava da fazenda, criada dentro da casa grande.

Foram criadas juntas. Durante a infância e adolescência, cresceram felizes como duas grande amigas. Vovó foi criada pra ser a esposa de alguém e cumpriu com o seu papel. Casou-se aos 18 anos com o vô Herculano, filho de um comerciante da capital, para onde se mudou desde então.

Suzana permaneceu na fazenda até a morte de sua mãe em 1920. Mas alguns anos antes de morrer, revelou a jovem Suzana o grande segredo de sua vida: Fora durante toda a vida amante de meu bisavô e ela seria fruto deste amor proibido.

A vó Catarina e Suzana guardaram o segredo durante muitos anos, até a morte do pai delas. Quando minha vó teve o primeiro filho, Suzana veio para a capital ajudá-la e aqui permaneceu até falecer. A história só veio à tona depois do fim da Segunda Guerra.

A suspeita sobre a paternidade de Suzana sempre foi assunto nas conversas de bastidores da família. Suzana havia incovenientemente herdado os olhos do vô Jerônimo. Uma linda negra dos olhos azuis. Mas o assunto era tabu e, por isto mesmo, restrito às conversas secundárias.

Suzana casou-se aos 40 anos. Ficou viúva dois anos depois e herdou de seu falecido marido alguns imóveis e uma boa pensão. Voltou a morar então com a vó Catarina, sua meia irmã. Ajudou na criação de duas gerações da família.

Gostava de jóias e boas roupas. Era metida a danada. Tinha status de membro da família e ao mesmo tempo era uma espécie de governanta, mas sem salário. Era ela quem cuidava das compras da casa e ajudava vovó a receber nos jantares que costumava oferecer.

Quando vovó morreu na década de 70, Suzana foi morar lá em casa.

Nesta época, já era do conhecimento de todos que era irmã de minha vó. Mas isso não mudou nada para todos nós. Sempre fora da família.

Apesar da idade avançada, Suzana era muito lúcida e forte. Gostava de contar histórias antigas, destas que não existem nos livros, e que passam geração após geração só no boca-a-boca. Eu adorava. Não me esqueço das minhas favoritas: A do "Surrão", a do "Caçador e seu Filho" e a história do "Bicho Manjaléu". Sempre me chamava de "meu filho branco" e eu a chamava de "minha neguinha". Eu gostava de dormir na cama da Suzana, e é para onde eu sempre ia quando acordava assustado à noite. Ela adorava dançar. Freqüentava os bailes da terceira idade e tinha muitas amigas.

Em setembro de 1995, fomos todos visitar a velha fazenda da família, hoje propriedade do irmão de minha mãe. Suzana parecia tão familiarizada, como se nunca tivesse saído dali. Mostrou-nos onde ficava seu quarto e de sua mãe nos fundos da casa e os quartos de cada membro da família. Revelou-nos histórias que sua mãe lhe confidenciara dos tempos da escravidão. À noite, todos sentamos a lareira para ouvi-la contar suas histórias assustadoras. Fizemos um grande silêncio para ouvir sua narração. Um must.

Suzana morreu aos 95 anos, dois meses depois, dormindo, discreta como sempre fora.
Ontem a tarde, como sempre faço no dia das mães, levei flores para ela. Eu e minha mãe. Seu túmulo é vizinho ao de vovó, que não conheci. E enquanto mamãe acendia uma vela e depositava flores para ela e vovó, eu olhava atentamente para a foto da Suzana na lápide e lembrava dos tempos bons que passamos. Tempos insubstituíveis.

Não acredito na vida após a morte, e não acredito que Suzana possa me ver. Mas gosto deste ritual anual porque faz aquecer meu coração com boas lembranças. E Suzana está entre as melhores que tenho.

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quinta-feira, maio 10

Cinco Elementos

Eu e o Julinho no mais próximo que conseguimos de um banho,
depois de três dias sem saber o que era isso(Bolívia, set/2005).


Eu ia organizar uma lista de TOP 5 mas desisti por algumas razões. Primeiro, porque seria muito difícil ficar tentando lembrar tudo o que de bom eu já vi e vivi. E seria muito difícil o julgamento. Depois porque esse negócio de TOP 5 ou TOP 10 é muito batido e também não interessa a ninguém, a não ser a mim mesmo. Então resolvi fazer diferente. Eu nomeei alguns tópicos e escolhi cinco elementos dentre os que mais me marcaram por alguma razão qualquer. E logo abaixo eu dou uma pequenas explicação do porquê da escolha de cada um dos cinco itens.

Não é, portanto, uma lista dos melhores, mas dos que mais me marcaram em algum momento da vida e seus devidos porquês. Existem livros e discos que eu gosto muito mais, mas não entraram na lista.

Não vou pedir pra que todos façam o mesmo, porque sei que a maioria(como eu) detesta correntes. Mas se quiserem fazer, eu adorarei ler!


Músicas

1 - Ay Amor! (Bola de Nieve)
2 - O Sonho (Madredeus)
3 - La Vie En Rose (Grace Jones)
4 - Qualquer Coisa (Caetano)
5 - Construção (Chico)

Ay Amor! é uma canção tenebrosa pra mim, quase uma marcha fúnebre. É linda, tristíssima e o piano magistralmente tocado pelo Bola de Nieve é inconfundível. É a canção que sempre ouço quando quero cortar os pulsos e foi o tema da minha depressão pós-Bernardo.

O Sonho é cheia de constatações, é lúdica e tem arranjos belíssimos. Triste e belo como um sonho de sábado a tarde.

Nada me faz mas feliz do que a versão de Grace Jones para La Vie En Rose. É só colocar no som pra eu começar a dançar. Desde a década de 80.

Qualquer coisa é qualquer coisa! Encho a boca e canto! Adoro este jogo de palavras.

E Chico, é Chico, forever and ever. Construção é minha canção favorita. E me incomoda saber que nunca conseguirei cantá-la do começo ao fim sem errar ao menos uma vez.

Livros

1 - Livro do Desassossego (Fernando Pessoa)
2 - Os doze trabalhos de Hércules (Monteiro Lobato)
3 - A morte e a morte de Quincas Berro D'água (Jorge Amado)
4 - A Metamorfose (Franz Kafka)
5 - Bola de Gude (Leir Moraes)

O Livro do Desassossego é uma coleção de fragmentos escrito por Bernardo Soares, heterônimo de Pessoa. O livro traz uma coleção de pensamentos e sensações de inquietação e desencanto com o mundo e com a vida. Quem sofre de depressão não deve ler. É meu livro de cabeceira.

Os doze trabalhos de Hércules foi o primeiro livro que ganhei de presente. Eu tinha cinco anos e mal havia aprendido a ler. Eu o li nada menos que 8 vezes, um livro de mais de 500 páginas. Meu pai acabou escondendo o exemplar, achando que eu enlouqueceria. Nada mal pra um garotinho. Foi este livro que me trouxe o prazer pela leitura e não poderia estar de fora.

Com Jorge Amado aprendi o prazer de ser malandro e a rodar pelas madrugadas da Lapa. A beber com quem quer que fosse e rir com as putas. Se alguém me estragou, foi ele. Salve Jorge!

A Metamorfose é a descrição cuspida de tudo o que passei na minha casa, com minha família. Era só substituir Gregório por Ricardo e nada mais.

Bola de Gude é um livro simples, juvenil, de um autor quase desconhecido, mas que me fez chorar por lembrar de uma amizade da infância que se foi sem dizer que ia e sem pretensões de voltar.


Fatos Marcantes

1 - Incêndio do Edifício Andorinhas
2 - Movimento dos Caras-Pintadas(1992)
3 - Meu casamento.
4 - 11 de setembro de 2001, WTC.
5 - Ter feito as pazes com meu pai.

O incêndio do Andorinhas me marcou demais. Estava lá no centro com minha tia Rosane quando o bicho pegou. E minha tia me levou pra ver as pessoas se jogarem em chamas pela janela. Até hoje minha mãe diz que ela não tem nada na cabeça. Nunca esqueci aquelas imagens.

O Fora Collor foi a primeira manifestação de cunho político da qual participei. Não entendia muito bem o que o Collor tinha feito, mas adorava pintar a cara e ir pra Rio Branco beber cerveja e cantar frases de efeito. Saí na capa do JB com o rosto e o corpo pintados para desespero dos meus pais que tentaram até onde puderam negar que era o filho deles em cima de uma banca de jornal com mais 4 malucos com a calça arriada até o joelho.

O atentado ao WTC marcou a todo mundo. Eu havia estado ali mesmo há menos de duas semanas e não podia acreditar que as torres tinham desabado.

O dia em que meu pai reconheceu seus erros, me pediu perdão e que eu voltasse pra casa foi uma das maiore emoções da minha vida, só superada meses depois pelo meu casamento com o Bê.

Pessoas

1 - Miguel
2 - Fernando Pessoa
3 - Meus pais
4 - Meu vô Herculano
5 - Cazuza


Miguel é o verdadeiro homem da minha vida, sem nunca ter me levado à cama. Um amor não reprimido, mas não sexual. Bonito, gostoso, inteligente, amigo para todas as horas e o cara mais feliz que eu conheço. Nunca o vi reclamar de nada.

Fernando Pessoa diz tudo o que penso e tudo que gostaria de dizer. Está sempre se contradizendo, mostrando que um mesmo pensamento pode ter vários ddesmembramentos, muitas vezes antagônicos. Uma alma perturbada, como a minha.

Preciso falar sobre meus pais?

Meu vô Herculano me ensinou a ler, a dirigir e a ser bom. Ele sempre dizia que o que faz um homem ser macho é a sua capacidade de ser sensível e aprazível. Vovô é meu herói.

Cazuza e Lucinha têm uma história de amor muito semelhante à minha com minha mãe. É intensa e cheia de solavancos e teria um desfecho muito semelhante se fosse vivida na mesma época da história deles. Eu tenho muito a ver com o Cazuza. Se um dia eu encontrar a Lucinha, é bem capaz de eu chamá-la de mãe.

Presentes inesquecíveis

1 - Minha primeira bicicleta(Vô João)
2 - O anel do meu dedo indicador direito(Bernardo)
3 - Fada Sininho(Bárbara)
4 - Camiseta Hering(Julinho)
5 - Skate(Mamãe)

Minha bicicleta e meu skate foram os dois presentes de infância que eu mais curti. Não tem explicação.

A Fada Sininho foi uma história engraçada. Eu e a Bárbara passávamos de táxi pela Liberdade e vimos a boneca bater asas voando no teto de uma loja de brinquedos importados. Ela deu um gritou e mandou o táxi parar. Desceu, comprou a boneca e me deu de presente. Está pendurada no meu quarto.

O anel em ouro branco foi presente do Bernardo, no dia do nosso casamento. Nunca vou tirar do dedo.

Quando eu estava sem falar com meus pais, eu ia passar o Natal sozinho quando o Julinho me ligou no meio da tarde. Fui passar com a família dele. E ganhei a camiseta de presente. Ele nem sabe, mas foi uma das coisas mais importantes que já ganhei. É a certeza de que sempre tem alguém lembrando de mim.

Espetáculos

1 - The Girlie Show, Madonna(Maracanã)
2 - Cats(New London Theatre)
3 - Imitação da Vida, Maria Bethânia(Canecão)
4 - Guns N' Roses(Rock In Rio III)
5 - Batuque(Ney Matogrosso)

The Girlie show foi especial pra mim, porque Madonna é Madonna e porque se eu não tivesse ido naquela ocasião, nunca mais eu veria um show dela. Hoje, eu jamais enfrentaria um aglomerado daqueles de pessoas pra ver Madonna de longe.

Cats, por ser um ícone dos musicais, e por ter sido um dos pouco espetáculos que assisti no exterior e por ser no New London Theatre.

Imitação da Vida, por ter sido montado em cima da obra de Pessoa e em especial, o Livro do Desassossego, fez com que eu me tornasse fã da Bethânia e eternamente louco por Bernardo Soares.

Guns N' Roses foi a maior energia que eu já senti na minha vida. Meu adolescente adormecido reviveu intensamente por cerca de duas horas.

Batuque me introduziu na obra de Carmem Miranda, que acabou sendo tema de um dos meus melhores trabalhos. Eu assiti Batuque seis(6) vezes.

Viagens

1 - Nordeste EUA/Canadá(2001)
2 - Leste Europeu e Oriente Médio(2006)
3 - Sertão Brasileiro(2002)
4 - Londres, Paris e Países Baixos(2002)
5 - América do Sul(2005)

New York, Boston, Toronto, Montreal, Chicago, Washington. Mais de um mês viajando, eu e a Bárbara. Com um detalhe: Almoço no "Windows of The World", duas semanas antes do 11 de setembro.

Berlim, Praga, Varsóvia, Istambul, Jerusalem, Cairo. Novamente, eu e a Bárbara na viajem mais interessante das nossas vidas. Muita comida, bebida, e locais inesquecíveis, como as pirâmides, o deserto do Saara, a Santa Sofia e o mundo de faz-de-contas do leste da Europa.

Sertão: A viajem mais triste da minha vida. Extremamente importante principalmente para nós do sul e sudeste que não temos a menor idéia do quão miserável este país pode ser. Quinze dias de estradas, eu, o Miguel e a Tati. Muita beleza, mas muito choro.

Londres, Paris, Bruxelas e Amsterdam. Foi minha lua-de-mel, não tinha como deixar de fora. E porra... é Londres, Paris, Bruxelas e Amsterdam. Preciso dizer mais?

A viagem pela América do Sul ainda vai ganhar um post só dela. Foram quase quatro meses de bicicleta, acompanhado de dois argentinos, um venezuelano e três canadenses, além do Julinho, meu amigo. Grande parte do percurso foi feito de biclicleta, parte de avião, e parte em balsas ou outras embarcações. Perrengue, frio e adrenalina total! Partindo da Terra do Fogo e terminando em Caracas, passando por Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Colômbia e Venezuela.

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quarta-feira, maio 9

EUA



Odeio esse papinho anti-americano terceiro mundista.

Falar mal é fácil.

Ontem mesmo ouvi um demente falar que os EUA são um país sem graça e cheio de debilóides. E que se dependesse dele, poderia ser banido do mapa.

Falar mal é fácil. Quero ver abrir mão do computador, da internet, das roupas, dos alimentos, dos remédios, da música, do cinema, da TV, da lâmpada incandescente e tantas outras coisas criadas por eles e que fazem parte da nossa vida, do nosso dia-a-dia.

Penso que estas pessoas fariam de tudo para terem nascido em solo americano. Bando de recalcados.

E o dia que NY for um lugar sem graça, bem antes eu já terei morrido de tédio no Rio de Janeiro.

Odeio hipocrisia, inveja, ufanismo. Passo longe de quem diz odiar os EUA.

Também tenho ogeriza aos defensores de Hugo Chávez, Evo Moralles e Fidel Castro. Querem viver de utopia, podem viver. Mas vão soltar suas bravatas em outras cercanias.

"Não me arrependo de nada, só me arrependo do que não fiz"

Essa frase tornou-se rotineira e é um must entre adolescentes idiotas internet afora. Na tentativa de encontrar quem foi o primeiro imbecil a proferir tal idiotice, encontrei um blog fazendo a mesma pesquisa que eu, um site afirmando que Abílio Diniz seria o autor da estapafúrida e um terceiro afirmando que o primeiro a falar este absurdo foi Leila Diniz. O que me fez achar que a imbecilidade é problema recorrrente entre os Diniz.

Expliquem-me: Como é possível alguém se arrepender do que não fez? No máximo poderíamos nos arrepender da nossa decisão pessoal de não ter feito alguma coisa. Ou será que o imbecil sou eu?

Outro dia, na Revista do Globo, uma famosa atriz, entrevistada, conseguiu superar todas as expectativas com a seguinte pérola: "Arrependo-me do que ainda não fiz". O mais engraçado é que a pessoa responde com um certo ar intelectual, o que deixa a caricatura ainda mais engraçada. Imagina alguém se arrepender daquilo que ainda vai fazer. Não seria mais fácil simplesmente não fazer, já que está arrependida de antemão? Que coisa...

Eu entendo a necessidade humana de querer se mostrar superior aos demais e seguro de si mesmo. Feliz por ter sempre tomado decisões sábias, ou por ter aprendido alguma lição ao tomar uma decisão equivocada. Mas é preciso saber que não há melhor lição do que o arrependimento. Com ele podemos admitir nossos erros e mudar os rumos de alguma trajetória. Podemos crescer!

Eu me arrependo de tantas coisas: De ter fumado o primeiro cigarro, de não ter ido ao batizado do meu primeiro sobrinho por estar brigado com meu irmão e de ter enganado algumas pessoas num passado não muito distante, embora eu ainda ache que elas tenham merecido. Só para citar três exemplos. Mas tenho muitas outras coisas das quais me arrependo.

Só não fico me culpando. Passado é passado, futuro é incerteza e o que importa é o presente. E o presente é uma pilha de processos na minha mesa esperando minha assinatura.

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terça-feira, maio 8

O que fazer?

Estou desde ontem em Niterói.

Fui transferido para cá no meu trabalho.

Depois fui visitar um amigo, bebemos uns licores e ele me ofereceu um bolo de marijuana, recém-saído do forno. Quem me conhece sabe o resultado final disto: Apaguei!

Acho que vou vir de mudança pra Icaraí, estou adorando isso aqui.

(***)

Quando você não tem nada o que fazer e nada a dizer, o que faz para passar o tempo?

Já sei, vou atualizar minha lista de TOP 5.

Viu como eu sei ser criança?


UPDATE(Devido aos comentários):

O bolo de marijuana é bolo mesmo.

É um bolo comum, de laranja, com alguns ingredientes a mais na massa, se é que me entendem. O efeito é enlouquecedor. Recomenda-se não sair de casa depois. Garantia de risadas e conversas ridículas onde Sartre e a manchete da Revista Caras convivem pacificamente.

Obs: Algumas pessoas terminam a noite dando plantão no vaso sanitário.

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segunda-feira, maio 7

Macaco Tião

Há menos de um mês o Brasil perdeu Nair Bello.

Agora foi-se Enéas Carneiro.

Daqui a pouco vamos ficar carentes de humoristas.

E a pergunta do dia: Em quem vai encarnar da próxima vez o espírito do macaco Tião?

Aguardemos.

Pensando Melhor

Estive pensando sobre os votos para as tais sete maravilhas do mundo moderno.

Primeiro constatação: Não é o voto da maioria que vai definir se uma coisa é mais ou menos maravilhosa.

Segundo constatação: Quem é capacitado para dar seu voto neste concurso tolo? A grande maioria dos brasileiros não conhece nenhum dos concorrentes, nem mesmo o Cristo Redentor. Aliás, a maioria dos cariocas não conhece.

Sendo assim, caso se tratasse de um concurso sério, seria óbvio que o julgamento fosse feito por pessoas capacitadas, que fossem a cada um dos locais para conferir de perto cada monumento e dessem sua pontuações seguindo alguns critérios técnicos pré-estabelecidos. Aí sim, teris algum valor.

Já que não acontece nada disso, e o que está em jogo é simplesmente a exposição visando fins turíticos, melhor arrastar a brasa pra nossa sardinha.

Hoje, eu votaria no Cristo. Não por patriotismo, mas por interesse pessoal mesmo.

Mas que ele é sem sal a vida toda... ah isso é!

E continuo achando um mico ter uma estátua de Jesus no alto do morro como símbolo de uma cidade que é muito mais do que isso. Parece coisa de cidade do interior da Bolívia.

Mas pelo menos serve pra mostrar como somos completamente blasé em relação a religiosidade. Acho ótimo saber que a maior festa da luxúria, do prazer e da bebedeira ocorre bem aos pés da tal estátua. Todo mundo feliz, com pouca roupa e nem aí pro que Ele pensa.

Jôka, Grace Jones tinha razão: Deus somos nós.

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sexta-feira, maio 4

Personagem

Caro leitor, eu sou um personagem. Um personagem de mim mesmo, mas um personagem. Mas quem não é? Quanto de nós é intencionalmente revelado e quanto é ocultado de propósito? Durante estes poucos meses em que mantenho este blog eu sempre apresentei um discurso a favor da cara limpa e da exposição da minha vida particular. Na verdade, como a minha intenção inicial era criar um diário virtual, nada mais natural que eu assim fizesse. Mas será que eu realmente consigo revelar quem sou? E quanto de mim eu tenho escondido para que perdure a imagem de rapaz feliz e bem sucedido?

Ontem à noite eu estava conversando com o Ricardo no MSN e sensações muito estranhas percorreram minha mente pelo resto da madrugada. Devido à curiosidade e insistência do rapaz, acabei revelando uma assunto que havia prometido a mim mesmo não revelar aqui, neste blog. Ao fazer tal revelação, senti que ele ficou um bom tempo sem esboçar nenhuma reação. Normal para quem fica surpreso. Bom, apesar de continuar em segredo, isto chacoalhou minha mente durante algumas horas e minha crise de consciência varou madrugada a dentro.

Já era quase duas horas quando eu tive uma idéia. Lembrando das minhas aulas de teatro, resolvi incorporar um personagem qualquer. Um leitor do meu blog. Então escolhi aleatoriamente dentre os meus amigos virtuais alguém que eu pudesse encarnar por alguns minutos. Feito isto, comecei a ler o meu próprio blog como se eu não conhecesse a pessoa que escreveu tudo aquilo, ou seja, eu mesmo. Parece loucura. E talvez seja mesmo.

Tive várias sensações e a imagem que tive de mim mesmo mudou várias vezes. Em alguns momentos pensei tratar-se de um boa vida. Depois um cara amargurado por um amor mal resolvido e que se pensa o único que sofre neste mundo. Em outros momentos, um ex bicho-grilo arrependido do seu passado na Lapa e adjacências. E no fundo, apenas um garoto de classe média mimado e com vontade de aparecer.

Quando terminei de ler tudo e pensar muito sobre a imagem que crio em cima de mim, eu me assustei. Que loucura isso. O que as pessoas podem pensar sobre mim? Eu sou um pontinho circulando numa cidade com milhões de outros pontinhos, num planeta com bilhões de outros iguais, num universo com inúmeros outros planetas. Sou só alguém na multidão. Que tenho eu de interessante para que alguém acompanhe a minha vida pelo que eu escrevo? Porque eu escrevo somente a parte que me interessa? Onde estão as sacanagens que eu já aprontei com os outros? Cadê meus momentos maus? Será que me faço de vítima em alguns momentos?

Eu sou brasileiro, nascido no Rio de Janeiro, assalariado, trabalho quase todos os dias, tenho os mesmos problemas que a maioria, reclamo de falta de grana, da violência, do meu dia-a-dia medíocre e do meu coração de pedra. Às vezes quero chorar, outras vezes quero rir da vida. Eu sei que ela é uma grande bobagem. Aprendi isto quando desencadeou-se o processo que culminou na minha separação com o Bernardo. Talvez por isto eu tenha pouco receio de mostrar o rosto e dizer o que penso. Mas, gostaria de poder dizer muito mais e me mostrar muito mais.

Mostrar por exemplo que, dentro em mim, moram tristezas profundas. Algumas adormecidas. Outras ignoradas. Mas algumas, indisfaçáveis.

A vida pode ser mesmo uma bobagem. Mas é uma bobagem muito triste.

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quarta-feira, maio 2

Novas Sete Maravilhas do Mundo


Todo mundo já deve saber que aquela estátua que fica ali em cima do Pico do Corcovado está concorrendo ao título de uma das "Novas Sete Maravilhas do Mundo".

Pois bem, recebendo um convite por e-mail, fui lá dar meu voto esta manhã.

Antes de votar, porém, eu pensei: Porque votaria no Cristo? Porque sou carioca? Porque sou brasileiro? Ué... mas meu voto não deveria ir para o candidato que considero "mais maravilhoso"?

Dentre os candidatos, eu conheço pessoalmente, além do Cristo: Acrópole de Atenas (Grécia), Coliseu de Roma (Itália), Torre Eiffel (França), Basílica de Santa Sofia em Istambul (Turquia), Machu Pichu (Peru), Castelo Neuschwanstein (Alemanha), Estátua da Liberdade de Nova York (EUA), Stonehenge (Grã-Bretanha) e a Ópera de Sydney (Austrália).

Na boa? Fiquei entre Neuschwanstein, a Santa Sofia e Machu Pichu. O Cristo para mim perde para todos os demais concorrentes. Não sou obrigado a ser tão ufanista.

Votei em Neuschwanstein. Sem remorso algum.

Concorrentes:
Acrópole de Atenas (Grécia)
Alhambra de Granada (Espanha)
Angkor Wat (Camboja)
Pirâmide de Chichen Itzá (México)
Cristo Redentor (Rio de Janeiro)
Coliseu de Roma (Itália)
Estátuas da Ilha de Páscoa (Chile)
Torre Eiffel (França)
Grande Muralha (China)
Basílica de Santa Sofia em Istambul (Turquia)
Templo de Kiyomishu em Kyoto (Japão)
Catedral de São Basílio (Moscou)Machu Pichu (Peru)
Castelo Neuschwanstein (Alemanha)
Petra (Jordânia)
Pirâmides de Giza (Egito)
Estátua da Liberdade de Nova York (EUA)
Stonehenge (Grã-Bretanha)
Ópera de Sydney (Austrália)
Taj Mahal (Índia)
Timbuctu (Mali)

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Fragmentos II

*** Censurado

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Qual é?

Eu sou solteiro, embora meu coração diga que não.

O que importa é que não tenho satisfação a dar a ninguém. Posso me envolver com quem quiser, a hora que quiser e como quiser.

E posso flertar igualmente com quem quiser. Quem não quiser é só dizer: Não, obrigado! Ou ficar quieto.

Nossa, que problemão hein... Vou fiar quieto.

Opa, email do Be, vou parar pra ler.