.....
A gente cresce ouvindo os poetas cantarem as maravilhas de lugares que talvez nunca venhamos a conhecer. O bom disto é que podemos simplesmente acreditar ou não no que eles dizem ou, no meu caso, experimentar a sensação de estar lá. Como aconteceu comigo no dia em que fui a Jaçanã só para ver onde Adoniran Barbosa disse ter morado, episódio já narrado neste blog.
Neste final de semana eu baixei no Rio de Janeiro com meu querido Bernardo para ver os amigos e a família. Sexta-feira, por volta das 14 horas, o telefone toca. Era o Julinho intimando-nos a comparecer em sua casa para beber e jogar baralho. Básico.
Bernardo como bom fashion addicted todo arrumadinho com seus jeans, relógios e óculos de grife e eu, como toda pessoa sem noção, de barba por fazer havia duas semanas, bermuda, all star e camiseta Hering branca. A conversa estava animadíssima, o whisky elevando-nos a um degrau acima da realidade e um bom beck conduzindo-nos a andares ainda mais elevados. Foi então que a Priscilla soltou:
- Ai, queria tanto ir ao baile na Mangueira.
- Como assim?
- O baile do buraco quente, nunca ouviu falar?
Já tinha ouvido falar, mas nunca ousara freqüentar. Mas porque não? Uma bela oportunidade para conhecer o local “onde o Rio é mais baiano”, onde “quando morre um poeta, todos choram”. Uns torceram o nariz, mas a maioria aprovou. E toca pro baile.
Uma e meia da manhã de sábado. O buraco quente é uma rua, um beco que é um dos principais acessos do morro. O baile começa ali mesmo no asfalto e vai se estendo pelo interior do beco até uns quinhentos metros morro adentro e acima. Muita gente. Pessoas bem arrumadas. Pessoas faveladas. Playboys da zona sul. Tesudas da comunidade. De repente alguém aponta:
- Olha, aquela menina da novela das oito!
A menina entrava acompanhada por dois rapazes e cumprimentava dois ex-BBB’s que observavam o movimento de dentro do camarote VIP. Sim, existe um camarote VIP. Entre fuzis e AR-15’s podia-se observar garotas dançando o créu ou o movimento do comércio a céu aberto. Maconha de dois? De cinco? De 10? Pó de 20?
Ali, no meio do baile, outro beco, uma espécie de apêndice daquela festa libertina, agregava uma parcela da população bem característica: A dos super-viciados. Todo mundo usando crack a céu aberto e ficando muito doido. E rola o funk...
Um homem lindo, aparentando uns 28 anos, com o torso nu muito bem trabalhado em academias, trajando uma calça branca bem justa e um grosso colar de ouro passa por nós agarrado a duas morenas igualmente gostosas. É filho do “Dono do Morro”, o cara por trás do comércio da região, se é que me entendem. Não mora na comunidade. Dizem que é na Sernambetiba.
Penso na hipocrisia humana. Na sociedade que proíbe, só para poder tornar tudo ainda mais selvagem. Muita adrenalina. Penso no carro de polícia parado ali, a 30 metros do local. Sinto a maresia no ar. Todos fumando, mesmo os que não querem. Vejo a força do poder paralelo. Vejo a alegria da favela. A falsa alegria e a alegria verdadeira.
E o baile continua: TUM, TUM, TUM... créu, créu, créu...
Enquanto piso em folhas secas, caídas de uma mangueira, lembro que estou ali, na mangueira. Onde o Rio é mais Baiano...
Neste final de semana eu baixei no Rio de Janeiro com meu querido Bernardo para ver os amigos e a família. Sexta-feira, por volta das 14 horas, o telefone toca. Era o Julinho intimando-nos a comparecer em sua casa para beber e jogar baralho. Básico.
Bernardo como bom fashion addicted todo arrumadinho com seus jeans, relógios e óculos de grife e eu, como toda pessoa sem noção, de barba por fazer havia duas semanas, bermuda, all star e camiseta Hering branca. A conversa estava animadíssima, o whisky elevando-nos a um degrau acima da realidade e um bom beck conduzindo-nos a andares ainda mais elevados. Foi então que a Priscilla soltou:
- Ai, queria tanto ir ao baile na Mangueira.
- Como assim?
- O baile do buraco quente, nunca ouviu falar?
Já tinha ouvido falar, mas nunca ousara freqüentar. Mas porque não? Uma bela oportunidade para conhecer o local “onde o Rio é mais baiano”, onde “quando morre um poeta, todos choram”. Uns torceram o nariz, mas a maioria aprovou. E toca pro baile.
Uma e meia da manhã de sábado. O buraco quente é uma rua, um beco que é um dos principais acessos do morro. O baile começa ali mesmo no asfalto e vai se estendo pelo interior do beco até uns quinhentos metros morro adentro e acima. Muita gente. Pessoas bem arrumadas. Pessoas faveladas. Playboys da zona sul. Tesudas da comunidade. De repente alguém aponta:
- Olha, aquela menina da novela das oito!
A menina entrava acompanhada por dois rapazes e cumprimentava dois ex-BBB’s que observavam o movimento de dentro do camarote VIP. Sim, existe um camarote VIP. Entre fuzis e AR-15’s podia-se observar garotas dançando o créu ou o movimento do comércio a céu aberto. Maconha de dois? De cinco? De 10? Pó de 20?
Ali, no meio do baile, outro beco, uma espécie de apêndice daquela festa libertina, agregava uma parcela da população bem característica: A dos super-viciados. Todo mundo usando crack a céu aberto e ficando muito doido. E rola o funk...
Um homem lindo, aparentando uns 28 anos, com o torso nu muito bem trabalhado em academias, trajando uma calça branca bem justa e um grosso colar de ouro passa por nós agarrado a duas morenas igualmente gostosas. É filho do “Dono do Morro”, o cara por trás do comércio da região, se é que me entendem. Não mora na comunidade. Dizem que é na Sernambetiba.
Penso na hipocrisia humana. Na sociedade que proíbe, só para poder tornar tudo ainda mais selvagem. Muita adrenalina. Penso no carro de polícia parado ali, a 30 metros do local. Sinto a maresia no ar. Todos fumando, mesmo os que não querem. Vejo a força do poder paralelo. Vejo a alegria da favela. A falsa alegria e a alegria verdadeira.
E o baile continua: TUM, TUM, TUM... créu, créu, créu...
Enquanto piso em folhas secas, caídas de uma mangueira, lembro que estou ali, na mangueira. Onde o Rio é mais Baiano...
5 COMENTÁRIOS:
e você conseguiu descer na velocidade 5 da dança do créu? hauahauahauhauahua
porque " onde o Rio é mais Baiano?"
senti um preconceito implicito com a Bahia.
Marcos.
Não vejo preconceito algum em ler "onde o Rio é mais Baiano".
E olha que sou o tão famoso carioca da gema.
Tá certo que "baiano" é um termo pejorativo em São Paulo. Se fosse essa a sua intenção você usaria o termo paraíba ao invés.
Deixa eu deixar a filosofia de botequin de lado e fazer o que vim fazer.
A única vez que fui à Mangueira foi para um churrasco comemorativo de aniversário de um aspirante a ator global. Na mesma época que o presidente americano foi. Não vi tanta libertinagem explícita, mas o armamento bélico já é outra questão.
Gostei daqui também.
Obrigado pela visita, de novo.
Beijos.
Poucas pessoas entenderam este post sobre a Mangueira.
"Onde o Rio é mais baiano" não é pejorativo. É simplesmente o título de uma canção do Caetano que fala sobre a Mangueira e diz que ali é onde o Rio é mais baiano. Meu objetivo é apenas ironizar os versos das canções que romantizam as favelas como se fossem locais paradisíacos.
Mas nada a ver com o preconceito com os nordestinos!
Quem éra a ex. BBB que estava no morro, naum disse o nome
Postar um comentário
<< Principal