quinta-feira, julho 26

Covardia

Eu posso ter todos os defeitos do mundo, mas ao menos covarde eu não sou.

Detestei as vaias dadas ao presidente Luís Molusco na abertura do PAN. Acho uma covardia juntar milhares de pessoas contra uma só pra dar peti. A maioria ali se estivesse sozinha frente a frente com o presidente, daria um sorrisinho e trocaria um aperto de mãos. Quer protestar de verdade, vote em outro. Se ele está lá é porque o povo quis. Reclamações, nas urnas daqui há três anos.

O mesmo vale para as vaias dadas aos atletas americanos e a todos os demais atletas que lutam por algum resultado com os brasileiros. Porque vaiar? Vaiar quem quer ser o melhor? A melhor forma de mostrar-se melhor ou superior é sendo melhor e superior. Vaiar americano é fácil, difícil é superá-los no quaro geral de medalhas. É isso que deveríamos procurar fazer. As vaias mostram ao mundo o quão invejosos e ridículos nós somos. E o pior: Covardes!

Estou cansado de alguns tipos de covardia. Outro dia desentendi-me com um colega de trabalho porque este contara uma piadinha absolutamente sem graça sobre gays. Fui muito claro ao dizer que senti-me ofendido com a piada(que de tão sem graça não arrancou risos de ninguém) e pedi que ele se retratasse comigo e com outros possíveis colegas homossexuais não-assumidos. Foi interessante porque ao mesmo tempo, eu saí do armário no meu trabalho e ainda dei uma de "Pagu" dos gays da Receita Federal. sob aplausos dos defensores da causa. O colega humildemente reconheceu seu erro e pediu desculpas a mim por e-mail com cópia para todos que presenciaram a cena. Ponto para mim e para a dignidade!

Dia desses mesmo o jornalista Marceu Vieira soltou a seguinte notinha no ancelmo.com no "Globo Online": "Há testemunhas. Quarta à noite, um casal de lésbicas entrou no grã-fino Zazá Bistrô, em Ipanema, e, para brindar mais um mês de namoro, olhou no cardápio e pediu uma mistura de absinto, espumante e hortelã. E daí? Daí que o nome do drink, na carta, é... Picasso. Faz sentido."

Pode parecer inocente, e sem dúvidas sem graça nenhuma, mas gerou inúmeras reações de protesto e protesto bem vindo. Essas piadinhas de mau gosto só existem aonde o respeito ainda não foi alcançado. Quantos não se lembram que até bem pouco tempo fazia-se piadas sobre dificientes físicos e negros à torto e direito em qualquer conversinha entre amigos? Hoje, além de sem graça, estas piadas são consideradas politicamente incorretas. Porque os movimentos que defendem estas minorias conseguiram força e apoio à sua causa, nobilíssima. Eu gostaria que todos entendessem que esse tipo de piada não é piada. Que esse tipo de piada não seria feita se fosse um casal de paraplégicos pedindo um drink chamado "corra" ou um casal de negros tomando um drink chamado "brancão". Mas por que fazer com um casal de lésbicas? Porque os homossexuais ainda não conseguiram se afirmar na sociedade ao ponto de serem respeitados, fato que graças a Deus já foi obtido pela luta dos negros e dos portadores de necessidades especiais. O que mais me irrita é a defesa que estas pessoas costumam usar: "Não sou homofóbico, eu tenho até amigos gays".

Melhor foi a versão que um internauta deixou nos comentários:
"Há testemunhas. Segunda à noite, um jornalista entrou numa livraria, e para comemorar mais um dia fazendo piada com lésbicas, olhou na estante e pediu um livro chamado: Respeito. E daí? Daí que o nome do livro, na estante, é... Respeito. Faz sentido."


PS:

Ando num momento tão gay da minha vida... Ontem sonhei que estava num show da Maysa e que ela me convidava para subir ao palco e cantar "I Love Paris" com ela.

Passivérrima!

12 COMENTÁRIOS:

Blogger Râzi disse...

Bom, vc realmente é um paradóxo.

Ao mesmo tempo que acha que as pessoas tem um preço - do que eu discordo, no sentido mais mesquinho e antipático da palavra, porque defender interesses é algo próprio do ser humano - acha que os negros já consquistaram o respeito na sociedade...

Meu querido, de repente os negros que moram no Leblon sim, são muito respeitados... mas acho que isso tem mais a ver com outra coisa da qual já falamos. Naquele filme "As Branquelas" temos um bom exemplo disso.

Sim, ainda existe muito preconceito com o negros, mesmo que velado. E esse é o pior tipo, porque é contra esse que é difícil de se lutar.

E meu querido, enquando existirem diferenças, haverá preconceito. Infelizmente.

Beijão!

PS: Desculpe se meu tom está um pouco rude, não é isso que quero passar.

quinta-feira, julho 26, 2007 5:17:00 PM  
Blogger Unknown disse...

Esta Coluna no Globo vive fazendo piadas e comentários racistas, machistas e homofóbicos. Tá mesmo na hora das pessoas começarem á reclamar. Eu vou passar a mandar mensagens reclamando, sempre.
Acho que a coluna ainda tem um jeito meio século 19 de ver o mundo e sobretudo o Rio.

quinta-feira, julho 26, 2007 6:12:00 PM  
Blogger Jôka P. disse...

Não acho graves as piadinhas não, Ricardo.
A gente tem que ter senso de humor e se garantir, saber se defender com elegância e responder as provocações babacas com nossa inteligência, que não é pouca.
Senão fica um lance assim meio "vítima", né !? Tenho horror a isso.
O humor deve sempre ter um componente de alguma maldade e ironia, senão não tem graça - veja, até nos velhos filmes pastelões era assim. Rolava um tombo, um estabaque, e o povo ria, né ?!
Não existe humor bonzinho.
Algumas piadas de bichas ou sapatas são até engraçadas, desde que só fiquem na área restrita da graça. Não podem ofender ou agredir, mas poder fazer rir.
Não me ofendo, nem com as piadas de louras ou de judeus. Deveria ? Não sou complexado. Nem você muito menos. Né não ?
Com os negros (tem que dizer afro-descendentes?) já é beeeeem mais complicado, eles trazem uma carga ancestral de maustratos, escravidão e se ofendem com quase tudo. Correm pra fazer beó.

Com o que podemos ou não brincar ?
O que é permitido e até aonde se pode ir pra fazer uma piada ?
Existem esses limites ?
Então rola uma censura ?
No lo creo.
Estou feliz com seu come-back, cheguei a achar que tinha desistido definitivamente do blog.

Abç!
Jôka

quinta-feira, julho 26, 2007 11:39:00 PM  
Blogger Jôka P. disse...

Quanto a vaia,apesar de nunca ter morrido de amores pelo Lula e muito menos morrido de amores por ele,também achei uma covardia,aquilo mesmo de fazer porque tá junto. Um mané sozinho daqueles não iria vaiar nuca. Aliás, vaiar delegação e time estrangeiro convidado é no mínimo escroto e uma tremenda falta de educação.
Mas isso, esse povão que adora ir à futebol e promover briga de torcidas tem de sobra.

quinta-feira, julho 26, 2007 11:52:00 PM  
Anonymous Anônimo disse...

Pois é. Concordo com o Rica de novo. Negros, deficientes, gordos, anoréxicos, sardentos, narigudos... as diferenças caminham ao lado da discriminação. Em graus maiores ou menores de explicitação apenas. Mas estão todos por aí.
Afinal de contas, não foi aí no Rio que outro dia os meninos de classe média-alta espancaram a empregada doméstica trabalhadora porque acharam que ela era prostituta?!?!

sexta-feira, julho 27, 2007 9:41:00 AM  
Blogger Il Bastardo disse...

E ae seja bem vindo...
Concordo em parte, achei as vaias ao ilustríssimo excelentes, em rede nacional e para o mundo inteiro ver, aliás, este devia ser o som potencializado infinitas vezes e soado toda vez que ele resolvesse abrir a boca, não fui eu que o coloquei no poder e mesmo que votasse nele tenho direito de voltar atrás e achar o seu governo uma grande merda, e reivindicar através de vaias ou outros meios, todo manifesto popular embora as vezes equivocado ou radicalizado é digno de aplausos!
Agora em relação ao comportamento das pessoas nos jogos é triste mesmo, uma pergunta:
Carioca não tem o que fazer?
Aplausos pra você no trabalho, quem sabe essa coragem toda me contagia e faço o mesmo!
Um grande abraço....

sexta-feira, julho 27, 2007 12:00:00 PM  
Blogger Leandro disse...

"Quantos não se lembram que até bem pouco tempo fazia-se piadas sobre dificientes físicos e negros à torto e direito em qualquer conversinha entre amigos? Hoje, além de sem graça, estas piadas são consideradas politicamente incorretas. Porque os movimentos que defendem estas minorias conseguiram força e apoio à sua causa, nobilíssima."

Olha, não sei o que eu perdi, mas só se isso for no seu círculo social. Desde quando as piadinhas racistas -- e sem graça -- deixaram os círculos de amigos??? Desde quando os negros são realmente respeitados como iguais num país em que se você fala para um camarada "moreno escuro" que ele é negro ele se ofende e diz: "Negro, não! Moreno escuro" (ou marrom bombom, ou moreninho, ou moreno claro, ou moreno cor-de-jambo e todas as tão conhecidas matizes...)? Desde quando se tem respeito aos negros em um país em que, nos anúncios de emprego, MUITAS vezes "boa aparência" é ser branco? Desde quando se tem respeito em um país em que a maior apresentadora infantil de televisão cultivava um séquito de assistentes de palco parafinadas e tão brancas que mais pareciam européias?

Quanto aos deficientes, não vejo essa inclusão toda. Não sei como são as coisas por , mas pelo resto da cidade, não vejo ônibus adaptados com elevadores ou rampas de acesso pelos prédios (inclusive em MUITOS públicos). Não vejo rampas nas calçadas, nem pisos especiais ao redor dos orelhões para que o camarada cego, que usa a begala "tateando" o caminho, não dê de cara com eles. Sinais de trânsito com aviso sonoro?...

Já quanto às piadas de homossexuais, concordo com você plenamente! Infelizmente o lance é que aparecer na televisão falando "isso é uma bichona!!!" não é crime! Ninguém processa o Renato Aragão pelas piadinhas homofóbicas do ridículo, deplorável e abjeto programa dominical dele. Tudo só mostra, se não uma má vontade, pelo menos um descaso em legislar sobre o assunto.

Sabe, eu pensei duas vezes antes de deixar esse comentário -- talvez antipático -- mas não posso negar que fui contagiado pela sua veemente declaração de não-covardia.

Abraços!
=)

sexta-feira, julho 27, 2007 5:07:00 PM  
Blogger Râzi disse...

Ahuahuahauahh!

Esse é o meu namoradoooo!!

:D

sexta-feira, julho 27, 2007 5:26:00 PM  
Blogger David disse...

Concordo com o povo aí, rapaz, acho que não precisamos ir sempre tão longe assim. Mas, fala a verdade, vaiar os outros atletas foi meio despeito mesmo. Curti não. Passa lá em casa, tem texto novo.

sábado, julho 28, 2007 2:37:00 AM  
Blogger Monalisa disse...

Ricardo, este seu post gerou controversias hein...
Detesto vaias, porque elas são a expressão da falta de respeito e de coragem de fazer melhor. Vaiar um representante de Estado é como confessar que você age como um burro, já que ele está lá porque você ou grande parte do país o elegeu. Isto para mim é como a esposa que fala mal do marido, mas não se separa, pois ele não presta e ela muito menos, já que fala mal dele e continua junto compartilhando tudo o que ele tem de ruim.
Com relação aos preconceitos, falei um pouco disso lá no meu blog hoje. Não acredito que o ser humano consiga se livrar de seus preconceitos totalmente, mas acredito que exista um "elite" que tenha como principal característica o respeito pelo próximo. Apenas isso.
Excelente semana para você.

domingo, julho 29, 2007 8:15:00 PM  
Blogger F disse...

ler teu blog abre tanto meus olhos..

domingo, julho 29, 2007 11:48:00 PM  
Blogger CURRADOR disse...

São tantas coisas pra serem discutidas, qe todos acabam tendo razão em seus comentários. No caso da vaia do LULA: Teve pessoas qe lá o vaiaram por não terem votado nele e/ou por o acharem incapaz de fazer algo pelo páis (opinião de qem não votou nele ou até mesmo decepcionou-se depois qe votou). A qestão é qe qual o meio de colocar nossa "insatisfação" pra fora, uma vez qe o mandado dele ainda não se findou...seria saindo nas ruas com a cara pintada? Aparecer no meio de uma reportagem e atravessar na frente da repórter e começar a 'ofender' o LULA? Pedir pra ser ouvido láh no CONGRESSO ou aparecer no horário nobre e pedir pra alguma emissora ceder um mísero espaço pra colocar sua indignação no ar? Com isso, vejo as vaias como uma forma de mostrar insatisfação. Se um monte de gente o vaiou só pra acompanhar, talvez fosse um covarde arrependido. Qnto as vaias aos atletas, mesmo qe alguns desses atletas tivessem decido a lenha no Rio de Janeiro; por só ter favela, comida ruím e acomodações simplórias(caso verídico), mesmo assim poderíamos ter encontrado outra maneira de colocar nossa 'insatisfação' diante de outros atletas qe não tinham nada a ver com a paçoca.
Em relação ao pré-conceito, outra coisa muito delicada à ser discutida. Sabe-se qe muitos preconceitos são velados, mas por serem velados, isso já mostra um pouco de ''respeito'' (áspas pessoal). Existem muitos processos correndo soltos em emissoras por exemplo, mas não serão divulgados por ''denigrir'' a imagem de um humorista, jornalista ou coisa assim. alguns até acabam aparecendo sim, mas tem alguns qe tentam a todo custo fazer com qe nada apareça na mídia.
Usando o exemplo do Renato Aragão ou zorra total e outros mais; talvez a intensão deles em dizer :
''isso é uma bichona !!!'' seja uma forma de banalizar o assunto e torna-lo engraçado ao invés de ruím. claro qe tem uns qe se aproveitam de uma piadinha pra colocar seus preconceitos para fora. mas como saber qndo é intensional ou não? devemos colocar todos na ''forca'' ou não ??
Como se faz pra rir de uma piada qe não esteja falando ''mal'' de algum suposto defeito etc, como : nariz grande, obesidade, cabeludo, gaúcho, pesudo, óculos de lente fundo-de-garrafa etc etc ???
existe todo tipo de piada, das inteligente as banais, mas tudo são piadas para descontrair; Sim eu sei, tem umas qe são de tamanho mau gosto, qe nem preciso falar.., mas tem outras inocentes mesmo falando de algum ''defeito'' ou coisa assim.
Tudo isso, são meus pontos de vista, mas aceito críticas sim e com isso, iremos debater e formar novas opiniões não é ?!!
abraço a todos.

sábado, janeiro 05, 2008 7:11:00 PM  

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