Bernardo
Primeiro de Janeiro de 2002. Eu vinha dirigindo meu Clio(Cara que saudade deste carro!) pela Lagoa quando o idiota da frente freou bruscamente. Apesar da minha agilidade em frear, não pude evitar algum impacto. Desci puto do carro, tão puto que na hora nem reparei que o idiota era um rapaz de 25 anos, musculatura bem torneada, olhos verdes penetrantes e cabelo liso na altura do ombro. Depois de muita discussão, trocamos o telefone para acertarmos o conserto mais tarde. Só quando já estava de volta ao carro, seguindo para o Humaitá onde eu morava(mais saudade!), é que a beleza do rapaz foi mencionada pela Bárbara, amiga desde sempre que estava comigo voltando de uma festa de Reveillón em Copa. Segundo ela, o olhar dele em minha direção aparentava segundas intenções. Naquele dia mesmo ele ligou:
- Ricardo?
- Sim.
- Aqui é o Bernardo, o rapaz que se envolveu com você num acidente de trânsito(juro que ele falou isto!).
- Envolveu-se comigo? Sei... - respondi com certa ironia e humor.
- Ehhh... - sem graça - Pois é, como eu te disse eu não sou chegado a confusão e por isto estou ligando pra que fique tudo acertado entre a gente o mais rápido possível.
- Ok, mas não precisava ser hoje. É feriado e não estou no clima para resolver problemas. Hoje eu quero mesmo é terminar o primeiro dia do ano tomando uma água de côco na Lagoa(eu nem sou oferecido né?).
- Bom, se eu puder te acompanhar nessa água de côco, poderíamos aproveitar e tratar dos problemas também(Quem é mais oferecido?).
Sem enrolar muito: A água de côco viraram taças de martíni e os problemas foram esquecidos após algumas semanas de sexo selvagem e juras de amor eterno.
Quase onze meses depois, com direito a noivos de terninho armani, eu e o bê nos casamos no sítio dos pais deles em Mendes, Estado do Rio. Festa para 150 convidados, com direito a muita dança e bebida a noite toda.
Não sei se um dia eu serei tão feliz como fui naquele dia.
Parênteses: Eu tive muitos problemas com meus pais quando assumi minha sexualidade e ao vê-los ali compartilhando a minha felicidade eu fui ao céu.
Papai e mamãe sempre trataram o Bernardo como um filho e eu me sentia igualmente tratado pela família dele. Eu era uma criança realizada: Tinha uma família adorável e meu namorado era um jovem economista muito gato e inteligente, bem resolvido e com uma família não menos maravilhosa!
Eu poderia ter pedido um pônei para aproveitar que estava sonhando. Porque meu conto-de-fadas era só um conto-de-fadas.
O primeiro ano foi cheio de descobertas e brigas que viravam chacota e acabávamos rindo um do outro. No início de 2004 o Bê começou a ter várias crises pessoais. E claro, tudo era despejado em cima de mim. Ele queria ir para a França fazer um Doutorado e para isso teria que ficar três anos fora. Eu sempre deixei bem claro que meus objetivos profissionais e acadêmicos estavam restritos ao Rio de Janeiro. Não iria deixar minha vida consolidada aqui para acompanhá-lo em sua aventura francesa. A escolha era difícil, mas até hoje eu acho que a melhor escolha era seguir o sonho dele por mais que isso doesse na gente.
Ao invés de simplesmente tomar esta decisão, o Bê começou a querer separar a gente. Até hoje não sei o que foi feito propositalmente ou de maneira inconsciente. Primeiro começou a dormir alguns dias na casa dos pais, alegando sempre que ficou tarde pra voltar pra casa. Depois começou a procurar desculpas para sair sozinho com os amigos. Eu evitava confrontos com ele porque todos estes sinais eram apontados pelo meu analista com quem eu sempre conversava sobre o comportamento do Bê. Então ele passou a beber diariamente, ficava agressivo com qualquer coisa que eu falasse e a me chamar de egoísta e dizer que eu só pensava em mim e que estava farto de ser apenas um satélite, etc, etc...
Eu passei a fazer análise duas vezes por semana.
Em agosto de 2004 eu só chorava o tempo todo. E o Bê fingia que não via e ficava bebendo em frente a TV. Era a mesma coisa todo dia. Chegava da capoeira, ficava fedido a suor e bebida até a madrugada, Só tomava banho e ia deitar depois que eu dormia. Sexo, nem pensar. Só quando rolava aquelas sessões de perdão intermináveis.
E a culpa de tudo era sempre jogada em cima de mim.
Em outubro um amigo e ex-namorado Espanhol de passagem pelo Rio de Janeiro me mandou um e-mail para que nos encontrássemos para um jantar. O clima com o Bê estava muito ruim e eu decidi não convidá-lo para a ocasião. Não tinha segundas intenções com este encontro, talvez por isto mesmo não tenha me dado conta da armadilha em que estava me metendo. Eu simplesmente fui sem dizer aonde eu ia. Mas ele que tinha todas as minhas senhas desde bancárias até as senhas de e-mail, leu aonde estaríamos e foi ao nosso encontro no Bar D'Hôtel. Não fez barraco, mas fez questão de chegar e cumprimentar antes de sair e me deixar com cara de pego no flagrante delito.
Nesta noite depois de muita discussão a gente acabou se batendo mesmo. Como sempre eu chorei muito e acabei indo dormir na minha mãe, que só vendo o corte na minha sombrancelha percebeu que a crise estava grande. Passei uma semana com ela, até que o Bê foi lá me buscar.
Em dezembro ele foi embora. Conversamos e ele admitiu que se sentia preso a uma vida a dois que ele não queria naquele momento e que tudo que eu fazia fosse bom ou ruim estava o irritando porque no inconsciente dele eu era o grande vilão que o prendia.
Ele queria liberdade de viajar, de estudar fora e talvez quisesse viver outros amores.
Nunca mais amou ninguém e nem eu.
Ficou mais um ano no Brasil antes de ir pra Europa. Tivemos muitas recaídas neste período. Passei a acompanhar os treinos da capoeira. A ligar para ele no meio da madrugada. Passamos muitas noites agarrados, sem sexo. Acho que chorei tudo o que podia nesta época. Eu fiz as contas. Fiquei 8 meses sem qualquer contato íntimo com alguém depois do último encontro com o Bê. Por fim, acabei mudando para o Leblon para tentar afastar um pouco o fantasma da minha relação com o Bê.
Hoje eu não choro mais. Nem sofro mais. Mas penso com carinho e saudades todos os dias. E sei que o que me impede de construir outro relacionamento com alguém é a esperança de que um dia vamos ficar juntos de novo. Quando terminar o doutorado, quando ele cansar da Europa, quando... sei lá.
**************
Ok, agora que acabei de escrever, eu reli todo o texto e deixo a pergunta: Porque a gente tem que sofrer tanto nesta vida?
**************
Sinceramente, espero que o Felippe leia isto. Quem sabe ele entende o que se passa comigo e resolve ter um pouco de paciência?
- Ricardo?
- Sim.
- Aqui é o Bernardo, o rapaz que se envolveu com você num acidente de trânsito(juro que ele falou isto!).
- Envolveu-se comigo? Sei... - respondi com certa ironia e humor.
- Ehhh... - sem graça - Pois é, como eu te disse eu não sou chegado a confusão e por isto estou ligando pra que fique tudo acertado entre a gente o mais rápido possível.
- Ok, mas não precisava ser hoje. É feriado e não estou no clima para resolver problemas. Hoje eu quero mesmo é terminar o primeiro dia do ano tomando uma água de côco na Lagoa(eu nem sou oferecido né?).
- Bom, se eu puder te acompanhar nessa água de côco, poderíamos aproveitar e tratar dos problemas também(Quem é mais oferecido?).
Sem enrolar muito: A água de côco viraram taças de martíni e os problemas foram esquecidos após algumas semanas de sexo selvagem e juras de amor eterno.
Quase onze meses depois, com direito a noivos de terninho armani, eu e o bê nos casamos no sítio dos pais deles em Mendes, Estado do Rio. Festa para 150 convidados, com direito a muita dança e bebida a noite toda.
Não sei se um dia eu serei tão feliz como fui naquele dia.
Parênteses: Eu tive muitos problemas com meus pais quando assumi minha sexualidade e ao vê-los ali compartilhando a minha felicidade eu fui ao céu.
Papai e mamãe sempre trataram o Bernardo como um filho e eu me sentia igualmente tratado pela família dele. Eu era uma criança realizada: Tinha uma família adorável e meu namorado era um jovem economista muito gato e inteligente, bem resolvido e com uma família não menos maravilhosa!
Eu poderia ter pedido um pônei para aproveitar que estava sonhando. Porque meu conto-de-fadas era só um conto-de-fadas.
O primeiro ano foi cheio de descobertas e brigas que viravam chacota e acabávamos rindo um do outro. No início de 2004 o Bê começou a ter várias crises pessoais. E claro, tudo era despejado em cima de mim. Ele queria ir para a França fazer um Doutorado e para isso teria que ficar três anos fora. Eu sempre deixei bem claro que meus objetivos profissionais e acadêmicos estavam restritos ao Rio de Janeiro. Não iria deixar minha vida consolidada aqui para acompanhá-lo em sua aventura francesa. A escolha era difícil, mas até hoje eu acho que a melhor escolha era seguir o sonho dele por mais que isso doesse na gente.
Ao invés de simplesmente tomar esta decisão, o Bê começou a querer separar a gente. Até hoje não sei o que foi feito propositalmente ou de maneira inconsciente. Primeiro começou a dormir alguns dias na casa dos pais, alegando sempre que ficou tarde pra voltar pra casa. Depois começou a procurar desculpas para sair sozinho com os amigos. Eu evitava confrontos com ele porque todos estes sinais eram apontados pelo meu analista com quem eu sempre conversava sobre o comportamento do Bê. Então ele passou a beber diariamente, ficava agressivo com qualquer coisa que eu falasse e a me chamar de egoísta e dizer que eu só pensava em mim e que estava farto de ser apenas um satélite, etc, etc...
Eu passei a fazer análise duas vezes por semana.
Em agosto de 2004 eu só chorava o tempo todo. E o Bê fingia que não via e ficava bebendo em frente a TV. Era a mesma coisa todo dia. Chegava da capoeira, ficava fedido a suor e bebida até a madrugada, Só tomava banho e ia deitar depois que eu dormia. Sexo, nem pensar. Só quando rolava aquelas sessões de perdão intermináveis.
E a culpa de tudo era sempre jogada em cima de mim.
Em outubro um amigo e ex-namorado Espanhol de passagem pelo Rio de Janeiro me mandou um e-mail para que nos encontrássemos para um jantar. O clima com o Bê estava muito ruim e eu decidi não convidá-lo para a ocasião. Não tinha segundas intenções com este encontro, talvez por isto mesmo não tenha me dado conta da armadilha em que estava me metendo. Eu simplesmente fui sem dizer aonde eu ia. Mas ele que tinha todas as minhas senhas desde bancárias até as senhas de e-mail, leu aonde estaríamos e foi ao nosso encontro no Bar D'Hôtel. Não fez barraco, mas fez questão de chegar e cumprimentar antes de sair e me deixar com cara de pego no flagrante delito.
Nesta noite depois de muita discussão a gente acabou se batendo mesmo. Como sempre eu chorei muito e acabei indo dormir na minha mãe, que só vendo o corte na minha sombrancelha percebeu que a crise estava grande. Passei uma semana com ela, até que o Bê foi lá me buscar.
Em dezembro ele foi embora. Conversamos e ele admitiu que se sentia preso a uma vida a dois que ele não queria naquele momento e que tudo que eu fazia fosse bom ou ruim estava o irritando porque no inconsciente dele eu era o grande vilão que o prendia.
Ele queria liberdade de viajar, de estudar fora e talvez quisesse viver outros amores.
Nunca mais amou ninguém e nem eu.
Ficou mais um ano no Brasil antes de ir pra Europa. Tivemos muitas recaídas neste período. Passei a acompanhar os treinos da capoeira. A ligar para ele no meio da madrugada. Passamos muitas noites agarrados, sem sexo. Acho que chorei tudo o que podia nesta época. Eu fiz as contas. Fiquei 8 meses sem qualquer contato íntimo com alguém depois do último encontro com o Bê. Por fim, acabei mudando para o Leblon para tentar afastar um pouco o fantasma da minha relação com o Bê.
Hoje eu não choro mais. Nem sofro mais. Mas penso com carinho e saudades todos os dias. E sei que o que me impede de construir outro relacionamento com alguém é a esperança de que um dia vamos ficar juntos de novo. Quando terminar o doutorado, quando ele cansar da Europa, quando... sei lá.
**************
Ok, agora que acabei de escrever, eu reli todo o texto e deixo a pergunta: Porque a gente tem que sofrer tanto nesta vida?
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Sinceramente, espero que o Felippe leia isto. Quem sabe ele entende o que se passa comigo e resolve ter um pouco de paciência?
5 COMENTÁRIOS:
Ri...meu lindo...
Ai, porra, que vontade de chorar...
Bem... depois do que li aqui, me faz um favor... esquece tudo o que eu te disse até hoje.. e se alguma vez eu critiquei o seu modo de agir, pode me chamar de babaca...
...
Beijão...
Ps... rola um contato pelo MSN?
Amor forte, história ídem. Nem todas as histórias de amor têm final feliz, né? Ou pelo menos aquele final que a gente espera. Talvez vcs não estivessem prontos pra abrir mão de algumas coisas, né? A história mostra.
Vejo que o Ricardo já convidou vcs pro choppinho 'à seis'... e aí, vai topar ou não?! Tamos chegando na quinta!!!!
Histórias de amor...fiquei tensa enquanto lia!!! Nem sempre as coisas terminam como a gente quer, mas como diz o povo, se não tá bom é porque ainda não acabou. Desejo mesmo que você encontre um novo amor, na verdade, eu queria ver o Bê voltar de Londres e ser feliz para sempre ao teu lado. Bisous, querido!!! Vai rolar prainha com SID???? Pena que eu não vou poder aparecer...fico doida para conhecer vocês...rsrsrs
Ricardo,
Achei linda a tua estória com o Bernardo... Fiquei suspirante aqui. Rsrs
Cara, espero que você encontre a felicidade de novo, seja voltando pra ele ou encontrando um novo amor.
=)
Abraço!
a gente sofre tanto pq quer, pq tem sentimento, pq ... sei lá.
às vezes dá vontade de arrancar o coração do peito e jogar no lixo.
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